HA!

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domingo, 8 de agosto de 2010

Dadá

A mulher usava meias curtas e coloridas e comia iogurte com uma colherzinha tão pequena que fazia o ato prolongar-se para sempre. Sentava-se numa cadeira grande e confortável, daquelas que giram e a fazia parecer menor do que já era. Todo esse rito (porque, permitam-me alegar, nada mais era do que um ritual mágico de hipnose) fazia com que qualquer um que passasse pela janela daquele cômodo tivesse noção de que entrava num transe profundo. Noção essa que passava com a mesma velocidade que vinha. Ela, então, continuava a falar; tinha pelo menos dois ouvintes-falantes à sua frente. Os demais eram curiosos; pobres insetos grudados à teia da de aranha (no momento disfarçada de peitoril de veneziana com direito a cortina florida).

_Tem cara de bela puta. E não vejo problemas nisso. Problema nenhum, aliás. É como uma aura, sabe, uma espécie de vocação que a pessoa tem. Ela é bonita, muito bonita. Mas não fica bem de modelo. Não sai bem nas fotos, parece achatada. Fotógrafo nenhum consegue fazê-la parecer mais comprida, a postura a denuncia. É uma puta, uma puta das boas, com olhar lânguido. Mas, coitada, é difícil ter que admitir isso, eu acho. E nem pra atriz serve, só de filme pornô e com muito custo. Porque também não é lá muito expressiva. Quando eu digo que tem vocação pra puta, é porque é isso mesmo. Mas acho que vocês não entendem.

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